quinta-feira, 19 de março de 2015

Críticas

“Para além da realidade…
O ato de pintar tem sempre qualquer coisa de divino pois é um fazer criativo. Muito para além da realidade, ainda que ela nos olhe a partir de dentro da esquadria da moldura.
Escolher o tema, o enquadramento, a profundidade, juntar-lhe o mistério do claro escuro, oficinar com mestria os pincéis e as tintas, et voilá, surgir então a expressão única de um rosto, um canto de casas, a paisagem nocturna, a marina nevoenta, um fogo que lavra forte numa estrutura industrial. Tudo isto encontramos na pintura do major Simões Duarte, um artista que carregou dentro de si durante décadas ânsias de pintar para os outros jóias do quotidiano, sejam elas o rosto do aldeão transmontano ou algarvio, o Porto nocturno, Gaia feérica, um recanto bucólico próprio para todos os piqueniques da nossa imaginação.
Pintar «clássico» num alinha que vem do quatrocento italiano passando pelos naturalistas de oitocentos, alguns Malhoa de rostos únicos, algum Medina, continuados por António Joaquim mesmo nas mais recentes apostas pictóricas deste último, a Simões Duarte ainda o prende a preocupação de pintar bem, mostrar que tem oficina, método, certeza pictórica no retrato e na paisagem, géneros entre os quais se divide, como que impondo a si próprio uma disciplina do traço, do volume e da cor nos primeiros, para a pincelada discorrer e diluir-se mais aberta nos céus de anil de Leixões e Leça ou nos negros do firmamento das zonas ribeirinhas de Gaia e Porto, entrecortadas pelo fogo do artificio parado das luzes de neons.
Aqui recorda-nos alguns quadros de Pedro Olaio muitas décadas antes das suas flores.
Dono de uma técnica que nos dá correcção do monumento ou da paisagem, para além da expressão dos retratos, da sua pintura ficam-nos momentos do dia a dia transformados em arte, como sejam o barco que voga, o incêndio que lavra, os olhos que nos fitam da profundeza da tela, sejam eles de Portugal ou de Afeganistão.
Tendo produzido já uma colecção de quadros dispersos por coleccionadores e apreciadores da sua pintura, estou certo que a sua produção futura seguirá nesta linha, a qual, de segura, não deixará, por certo de vir a surpreender-nos.”
O Professor Dr. Gonçalves Guimarães

Sem comentários:

Enviar um comentário